Sobre os desdobramentos do conflito fundiário e indígena em Faxinalzinho/RS
Diante do grave impasse que está
ocorrendo em nossa região desde o grave incidente envolvendo indígenas Kaingang
e agricultores, que resultou, lamentavelmente, na morte de duas pessoas no dia
28 de abril, queremos expressar nosso pesar e solidariedade ao luto das
famílias envolvidas nesse conflito. Nos sensibilizamos com as mortes desses
dois jovens, mas devemos nos questionar também sobre a exclusão social e as
mortes diretas e indiretas de milhares de indígenas Kaingang e Guaranis
vitimados pelos interesses econômicos e políticos de particulares e do próprio
Estado no Rio Grande do Sul.
No entanto, este problema não é
só local e não começou no dia 28 de abril, não começou na omissão do atual
governo do PT e nem nas mal arranjadas demarcações de terras nos anos de 1990,
durante o governo de PSDB. Essa é uma questão secular e que se fosse levada a
sério demandaria não só uma reforma contundente nas chamadas políticas
indigenistas, mas fundamentalmente nos critérios de acesso à cidadania para os
povos indígenas, que passa necessariamente, pelo acesso à terra a esses e a
todos os demais oprimidos do campo (quilombolas, sem-terras e pequenos
agricultores), ou seja, demandaria uma reforma agrária profunda e radical, como
o Estado brasileiro se nega a realizar desde, pelo menos, a Lei de Terras 1850.
O Estado (representado pelas
instâncias governamentais responsáveis, pela polícia federal e o poder
judiciário) deve ser responsabilizado pela sua parte nesse confronto, pela sua
omissão em resolver pacificamente o conflito instaurado em Faxinalzinho e
arredores, e pela sua política de criminalizar a luta política/cultural de todo
povo Kaingang, por conta de uma fatalidade isolada.
Por fim, gostaríamos de dizer que
em nossa Universidades temos alunos agricultores e indígenas. Que nossos alunos
agricultores e indígenas são também vizinhos, e muitos, direta ou
indiretamente, por vontade ou não, também são parentes entre si. Muitos estão com medo da escalada de
violência de ambos os lados. Enquanto professores, estudantes e pesquisadores, desejamos
e lutamos para construir um mundo de, na falta de melhor palavra, tolerância e
solidariedade entre todos, independentemente de cor, raça, credo, identidade
política e sexual, mas na impossibilidade da construção desse mundo pela boa
vontade e concórdia, e na inevitabilidade do conflito, que o conflito encontre
um direcionamento não entre os de baixo, entre os explorados e marginalizados,
não entre os pequenos, mas que seja canalizado para todos aqueles que se
beneficiem com a reprodução das desigualdades, da exploração, da opressão e
morte dos pequenos, sejam indígenas, negros ou brancos.
Nosso repúdio à traiçoeira prisão das lideranças Kaingang ocorrida em
09/05. Liberdade aos presos políticos indígenas!
Pela conclusão dos processos de demarcação das terras indígenas!
Por um justo reparo e indenização aos agricultores afetados pelas
demarcações das terras indígenas!
Toda a solidariedade aos indígenas Kaingang e aos demais indígenas por
sua luta por existir como povo!
Grupo
de Pesquisas Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (GPASE)
Universidade
Federal da Fronteira Sul (UFFS)
23
de maio de 2014
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